Congelamento de embriões no estágio de blastocistos pela técnica S3 Vitrification

Postado na categoria em e atualizado em 08/12/2010

A criopreservação de embriões vem se tornando uma técnica de vital importância na Medicina Reprodutiva, já tendo nascido inúmeros bebês em todo o mundo decorrentes desse procedimento.

Um grande desafio atual para as clínicas de reprodução humana é a implementação de técnicas e condutas que possam reduzir as taxas de gestações múltiplas obtidas após a realização da Fertilização in vitro (FIV). Atualmente, a melhor conduta para tentar evitar a gemelaridade é a transferência única de embriões, para isso, a seleção do embrião mais viável, entre toda uma cohorte de embriões em cultivo, passa a ser um aspecto crítico na rotina dos laboratórios de FIV.

Na grande maioria dos centros de reprodução assistida os embriões são transferidos para o útero materno no dia 2 ou 3 do desenvolvimento, quando estão com 4 a 12 células. Porém, como o genoma do embrião é totalmente ativado após o terceiro dia de desenvolvimento (aproximadamente com 16 células), em algumas situações, é benéfico atrasar a sua transferência até depois da transição do genoma maternal para o embrionário. Nestes casos, é possível realizar uma avaliação melhor destes embriões e identificar aqueles com alto potencial de desenvolvimento e implantação. Desta forma, o adiamento da transferência até o estágio de blastocisto poderia facilitar a seleção dos melhores embriões além de possibilitar a redução do número de embriões a serem transferidos, diminuindo assim, as taxas de gravidez múltipla ao mesmo tempo em que maximiza a taxa acumulada de gravidez por oócito obtido. Alguns estudos sugerem que a transferência de blastocisto permite uma maior sincronia entre o desenvolvimento embrionário e o ambiente uterino.

A opção de se adiar a transferência, ou seja, prolongar o cultivo embrionário até o estágio de blastocisto, no entanto, é dependente de uma série de fatores laboratoriais, inclusive de se dispor de uma boa técnica de criopreservação, uma vez que se faz necessário um método confiável para se guardar os blastocistos excedentes, isto é, aqueles de boa qualidade, que não serão transferidos. Anteriormente, blastocistos humanos eram criopreservados sob métodos convencionais, as chamadas técnicas de %u201Ccongelamento lento%u201D. Essas técnicas, porém, apesar de serem diversas, nunca se apresentaram suficientemente eficientes para preservar embriões neste estágio.

Nos últimos anos a medicina reprodutiva vem assistindo a um grande avanço na qualidade da criopreservação de embriões humanos graças à evolução das técnicas de vitrificação. Diversos estudos recentes apresentam a vitrificação como uma técnica mais eficiente, rápida, segura e barata para guardar oócitos e embriões humanos, em qualquer estágio de desenvolvimento. Observamos, desta forma, a substituição da técnica de congelamento lento convencional pela técnica de vitrificação na prática dos laboratórios de Fertilização in vitro.

Para o aprimoramento das técnicas de congelamento temos que levar em consideração alguns conceitos básicos referentes ao tema. Qualquer gameta ou embrião pode sofrer danos durante os processos de criopreservação e resfriamento. Felizmente, porém, muitas vezes eles são capazes de reparar completamente ou, pelo menos, parcialmente, a injúria e dar continuidade a seu desenvolvimento. Desta forma, o propósito básico criopreservação é minimizar os danos e facilitar a regeneração. Para tanto, as estratégias baseiam-se em dois fatores: a utilização de crioprotetores e controle sobre as taxas de resfriamento. O processo de vitrificação, diferentemente do congelamento lento, requer um aumento radical tanto da concentração dos crioprotetores quanto da taxa de resfriamento. Os procedimentos atuais de vitrificação envolvem exposição das células suspensas em um volume muito pequeno de crioprotetores em alta concentração, por um curto período de tempo antes de resfriá-las, rapidamente, em nitrogênio líquido.

Um dos grandes problemas quando se realiza uma técnica de congelamento celular é a formação de cristais de gelo em seu interior. A diferença mais eminente entre a vitrificação e o congelamento lento diz respeito, justamente, a ocorrência de um maior dano celular provocado pelas técnicas de congelamento convencional devido a formação de cristais de gelo intracelulares este processo pode ocorrer durante o congelamento lento quando a passagem do embrião pela faixa de – 5º C até – 80º C de temperatura. Na vitrificação, não somente as células, mas sim toda a solução é solidificada sem a cristalização do gelo. A alta osmolaridade da solução de vitrificação desidrata a célula rapidamente e a submersão no nitrogênio líquido solidifica a célula tão rapidamente, que a água intracelular restante não tem tempo de formar cristais de gelo. Sem a formação de cristais de gelo intracelular, há uma redução substancial nos danos do congelamento causados à célula, em relação aos danos causados pelas técnicas de congelamento lento.

As técnicas de vitrificação de embriões no estágio de blastocisto deparam ainda com outra importante limitação. Blastocistos são morfologicamente muito diferentes de embriões em estágio de clivagem: apresentam uma cavidade interna (blastocele) composta principalmente de água. A blastocele implica em um desafio especial para a o sucesso de sua criopreservação, pois por ser preenchida por água, pode formar cristais de gelo quando a temperatura é reduzida, causando danos tanto à massa interna celular, quanto ao trofoderma. A fim de contornar esse problema, muitos pesquisadores têm colapsado a blastocele através de micromanipulação. Apesar de esses estudos reportarem aumento nas taxas de sobrevivência, é óbvio que se trata de uma manipulação extra ao embrião, manipulação esta, potencialmente danosa ao embrião.

A técnica S3 Vitrification, uma nova técnica de vitrificação para blastocistos humanos descrita por James Stacheck e Sandro Sabino em 2008 e desenvolvida através de uma parceria multicêntrica com o grupo Tyho-Galileo Researchs. Trata-se de uma técnica inovadora, principalmente por: 1) não usa DMSO como crioprotetor; 2) utiliza palhetas convencionais (0,25 cc) para estocagem dos embriões, lacradas termicamente nas duas extremidades (sistema fechado); 3) permite criopreservar blastocistos íntegros, inclusive blastocistos totalmente eclodidos da zona pelúcida, sem a necessidade de colapsar a blastocele; 4) por fim, é uma técnica simples, rápida e principalmente, fácil de ser aprendida e reproduzida, além de barata.

Esta técnica apresenta sobrevida superior a 98% dos blastocistos descongelados apresentando taxas de gestação iguais entre embriões transferidos a fresco e após congelamento.