Cerca de 15 até 20% dos casais podem ter infertilidade

Postado na categoria Entrevistas em e atualizado em 11/04/2017

Marco Melo, diretor da Clínica Vilara – especializada em reprodução assistida – fala sobre as precauções com uma gravidez tardia e os tratamentos atualmente disponíveis.

Ter filhos após os 40 anos se tornou uma realidade na vida de muitas brasileiras. Conforme dados inéditos do Ministério da Saúde, divulgado em fevereiro, o número de mulheres que se tornaram mães após essa idade subiu 49,5% em 20 anos, passando de 51.603, em 1995, para 77.138, em 2015, dado mais recente disponível. As estatísticas de 2015 revelam que 72.290 dessas mães tinham entre 40 e 44 anos e outras 4.475 estavam na faixa etária dos 45 aos 49. Houve ainda 373 brasileiras que engravidaram após os 50 – entre elas, 21 já eram sexagenárias quando deram à luz. Pensando nisso, o especialista em reprodução assistida e diretor da clínica Vilara, Sandro Sabino, fala sobre as precauções com uma gravidez após os 40 anos e os tratamentos disponíveis para os casais que precisam de ajuda médica para engravidar. Confira.

 

JORNAL DA CIDADE

Dados do Ministério da Saúde confirmam que cada vez mais as mulheres têm engravidado após os 40 anos. Pode-se dizer que é uma escolha segura? Marco Melo Não é uma escolha segura! É uma opção para os dias atuais. As mulheres entraram para o mercado de trabalho, elas não tem como objetivo apenas construir família, isso é somente um dos objetivo. Elas desejam concluir os estudos, se estabelecer financeiramente e também ter uma família e ter filhos. Mas não é uma opção desejável.

 

Quais as vantagens e riscos eminentes em uma gravidez tardia?

A gravidez tardia está associada a maiores riscos de complicações obstétricas. Sabemos que as mulheres que engravidam tardiamente têm maior risco de desenvolver o diabetes gestacional, que é específico na gravidez, surge nesse período e desaparece logo após o parto, é uma complicação que demanda vários cuidados durante a gravidez, e pode implicar em problemas com o desenvolvimento do bebê e maior risco de prematuridade.  Outro risco é o maior risco de doença hipertensiva na gravidez, que é um aumento da pressão arterial durante a gestação, que também demanda cuidados específicos como medicação e dieta. Caso não for controlada pode evoluir para eclâmpsia que é quando evolui para um quadro convulsivo, que pode comprometer tanto a saúde da mãe quanto a da criança. Pode ter apresentar também risco de prematuridade, quer seja por complicação obstétrica ou por um problema de desenvolvimento placentário. Esses são os maiores riscos da gravidez após os 40 anos.

O estilo de vida interfere nas chances de uma gravidez após os 40 anos?

O estilo de vida pode impactar no curso da gravidez. Uma mulher que engravida tardiamente e é sedentária tem muito mais chance de ter as complicações obstétricas do que as mulheres saudáveis que praticam exercícios físicos e não são sedentárias nem tem doenças associada. O estilo de vida pode influenciar tanto positivo quanto negativo no curso da vida delas. As chances de conseguir uma gravidez natural diminui com passar da idade. A reserva ovariana, ou seja a quantidade de óvulos que a mulher tem nos ovários, e a qualidade dos óvulos também reduz com o passar do tempo. A idade é o maior fator de prognóstico para ter uma gravidez. O estilo de vida pode influenciar negativamente, como as mulheres com hábito de tabagismo. Se sabe que mulheres que fumam mais de 10 cigarros por dia podem reduzir a idade da menopausa em até 4 anos.  As mulheres que fumam, consomem bebida alcoólica e drogas, podem ter um impacto negativo na qualidade do óvulo e também no desenvolvimento do embrião e do feto dentro do útero.

 

A mulher que tem vontade de engravidar, mas sente que ainda não chegou o momento, pode se garantir de qual maneira?

A mulher que deseja uma gestação, mas quer postergar a gravidez, a melhor forma é fazendo a preservação da fertilidade, conhecido como congelamento de óvulos ou congelamento de embriões. Se ela já é casada, tem uma relação estável e não deseja uma gestação nesse momento, pode preservar embrião, fazendo uma fertilização in vitro. Ela irá fertilizar os óvulos com os espermatozoides de seu marido e deixar congelado, fazendo a transferência em um momento desejado. Ela pode também congelar seus óvulos, que é o mais indicado, principalmente quando a mulher é solteira. Ela faz o congelado e com isso o tempo paralisa para os óvulos. Se a mulher congelar aos 32 anos e resolver engravidar aos 42 anos a qualidade do óvulo está preservada como se ela tivesse com 32 anos. Mas, devemos deixar registrado que mesmo congelando os óvulos os riscos inerentes a uma gravidez tardia permanecem, uma vez que seja utilizado depois dos 40.

 

Quando um casal que deseja engravidar deve procurar ajuda médica?

A primeira coisa que o casal deve saber se precisa ou não buscar ajuda médica, é o tempo em que estão tentando engravidar. Se a mulher tem menos de 35 anos, o casal só deve procurar ajuda após um ano de tentativas sem sucesso. Já o casal em que a mulher tem mais de 36 anos, o auxílio médico deve ser procurado após seis meses de tentativa sem uso de métodos contraceptivos. Após essa avaliação eles devem procurar um especialista ou o ginecologista para iniciar o exames que fazem parte do estudo da fertilidade do casal.

 

Quais os tratamentos disponíveis?

Os tratamentos disponíveis são diversos. Para melhor explicar vamos dividir em tratamentos de alta ou baixa complexidade. Nos considerados de baixa complexidade temos o coito programada, no qual fazemos uma estimulação da evolução e acompanhamos toda a produção do folículo através de ultrassom e identificamos o período fértil e recomendamos o casal a manter relação sexual nessa fase. Outra opção é inseminação intrauterina, no qual se faz também uma estimulação e acompanhamento, e quando chega o momento fértil, indicamos que o casal retorne a clínica para que o homem colha o sêmen através de masturbação. Na sequência, nós recolhemos o sêmen e beneficiamos, introduzimos dentro do útero, inseminando a paciente. Já os tratamentos de alta complexidade temos a fertilização in vitro e a Injeção Intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), no primeiro é a fertilização fora do corpo do óvulo, fazemos a estimulação acompanhamos por ultrassom, depois programamos para voltarem, tiramos os óvulos através de uma punção vaginal, não é uma cirurgia. O marido colhe o sêmen por masturbação, inseminamos esses óvulos e fazemos a transferência de 2 há 5 dias após o procedimento. No ICSI a diferença é que injetamos através de um micromanipulador o espermatozoide dentro do óvulo, então é um processo mecânico da fertilização do óvulo, mas o procedimento é similar ao da fertilização in vitro.  

 

Mulheres jovens também podem encontrar dificuldade para engravidar de maneira natural?

As mulheres jovens também podem ter problemas de fertilidade. A infertilidade não é apenas um problema da mulher com idade avançada. Cerca de 15 até 20% dos casais podem ter infertilidade. A idade é um fator que aumenta a chance de ser infértil, mas não exclui os mais novos. Lembrando que a infertilidade é um problema do casal e não só da mulher. 50% das causas residem no homem. A classificação correta é o casal infértil.