O Milagre da Vida!
Marco Melo- Diretor Científico da Clínica Vilara- Hospital Vila da Serra
Quando vemos uma criança nascendo, sendo amamentada ou apenas dormindo no colo dos pais, não imaginamos o quanto é difícil se chegar a estes momentos! É verdade, quando um casal mantém relação sexual no período fértil, apenas 18% vão conseguir uma gravidez. Alem do mais, sabemos que cerca de 20% destas gestações terminarão em abortamento. Isto faz com que as crianças que nasçam sejam consideradas verdadeiras campeãs!
Este “processo seletivo” pelo qual passam nossos bebês se inicia antes mesmo da concepção, isto é, da fertilização do óvulo pelo espermatozóide. No ato sexual, não importando a posição ou mesmo a colocação de várias almofadas embaixo do quadril, artifício muito utilizado pelos casais que desejam alcançar uma gravidez, aproximadamente 2/3 dos líquido seminal sairá pela vagina. O restante alcançará a cavidade endometrial, parte interna do útero, contendo os espermatozóides móveis candidatos a fertilizar o óvulo liberado pelo ovário no momento da ovulação. Até aí tudo bem, como temos milhões de espermatozóides, ainda que percamos muitos neste processo, restariam muitos ainda! Só que os espermatozóides medem cerca de 5 micrômetros (aproximadamente 200 vezes menos que 1 milímetro) e tem que passar pela cavidade endometrial (que mede aproximadamente 10- 15 centímetros de comprimento) e trompas uterinas (também com cerca de 10- 15 centímetros)… Uma megamaratona a ser percorrida pelos valentes espermatozóides! Mas, afortunadamente, a natureza dá uma ajudinha.
No líquido seminal, existe uma substância chamada prostaglandina que provoca contrações uterinas que, por sua vez, fazem com que surja uma pressão negativa dentro do útero, facilitando a passagem dos espermatozóides por ali. Por estímulo do estrogênio, hormônio presente em altas concentrações momentos antes da ovulação, pequenos cílios presentes dentro da trompa começam a realizar um movimento coordenado que impulsiona os espermatozóides e o líquido existente dentro dela em direção à sua porção mais próxima do ovário, onde, após a ovulação, repousará o óvulo. Outro detalhe importante é que o estrogênio também faz com que este líquido da trompa tenha uma composição rica para os espermatozóides; desta forma, eles recebem não só um “empurrãzinho”, mas também são nutridos e “energizados” por ele.
Ocorrida a ovulação, o óvulo é captado pela trompa e surge um novo estímulo hormonal- a progesterona. Ela atuará não somente no endométrio, camada interna do útero onde ocorrerá a fixação do embrião e o posterior desenvolvimento da gestação, mas também na trompa, alterando o movimento dos cílios em direção ao útero, fazendo com que o embrião formado seja conduzido à cavidade uterina. O líquido da trompa, agora se tornará rico para o embrião, sendo responsável pela sua nutrição e fonte de energia para garantir seu desenvolvimento. Este percurso tardará cinco dias, tempo suficiente para que o embrião termine seu desenvolvimento até o estágio de blastocisto, fase na qual ele adquire a capacidade de se fixar ao endométrio.
“Não sabia que era assim”, “Isto é lindo”- estas são as frases que mais escuto no consultório quando explico o processo de fertilização do óvulo e implantação (ou fixação) do embrião ao endométrio. É verdade, é uma processo fantástico, apaixonante, que ainda não temos total conhecimento sobre ele.
Mas calma, ainda não acabou a aventura do nosso “pequeno campeão”!
Está apenas no meio. Depois de formado, o embrião necessitará fixar-se ao endométrio, processo chamado de implantação embrionária. Para isto, uma “guerra” será travada. Em todas as partes do nosso corpo, existe um conjunto de células que nos defende de organismos agressores- este conjunto de células é chamado de sistema imunológico. Quando um embrião vai se fixar ao endométrio, é como se células estranhas ao corpo materno estivessem provocando uma invasão, sendo considerado um agressor em potencial. Assim, o sistema imunológico começa um processo de ataque às células embrionárias. Por sua vez, o embrião passa a se defender produzindo uma série de substâncias químicas que tentarão frear esta agressão. Se isto acontecer do modo correto, o processo de implantação embrionária se dará de maneira eficaz e a gestação se iniciará.
Vendo toda esta história, acredito que fica mais fácil entender o porquê que este tema mistura fé e ciência; religião, no sentido de crer que algo maior esteja acontecendo, e conhecimento… Eu acredito que na origem da vida, fé, religião, ciência, conhecimento, lógica, sejam fatos que não se devam se confrontar, competir, mas caminhar juntos. Por isto, creio no “Milagre da Vida”, momento enigmático que tentamos decifrá-lo e conhecê-lo melhor, na tentativa de poder ajudar a casais que anseiam em experimentá-lo, mas que, por algum motivo, não conseguem.